Sétimo ciclo

54

21 Setembro 2024

Edição de Maria Trincão Maia

Ficha Técnica

Os artigos são da inteira responsabilidade do autor.

EDITOR

Maria Trincão Maia

DESIGN E PaGINAÇÃO

Sofia Batalha e Maria Trincão Maia

revisão

Margarida Trincão e Quelinha Caetano

crédito das fotos

Unsplash.com e fotografias dos autores 

Edição 54

Ligo para a Meo, tenho o hábito de reclamar com eles, no meio dos atendimentos automáticos vem o anúncio do Portugal Chama, aquele anúncio que pretende alertar a população para comportamentos de riscos no verão e para responsabilizar as pessoas pelos incêndios, usando a nossa culpa católica como arma. No meio do anúncio vem o pedido: se vir comportamentos de riscos por favor ligue. E eu fiquei a perguntar-me se devia ligar a avisar que a Navigator defende a monocultura de eucaliptos, se estão a arrancar carvalhos para por painéis solares, que a monocultura apoiada e financiada continua a existir. Tantos comportamentos de risco que passaria o dia ao telefone com quem procura bodes expiatórios fáceis e pouco ágeis. Como diria o outro: é o país que temos!

Respiremos… a revista traz dois textos selecionados da nossa open call, Marina Cató fala de questões indígenas e Celso Joabe reflecte sobre a negritude. O quão aqui em Portugal precisamos de começar a olhar para estas questões, o quão aqui estamos longe de compreender os efeitos reais do colonialismo. Obrigada por estes preciosos textos. E como sempre os nossos habituais colunistas trazem as suas visões e sentires, amores e dores.

Bom Outono.

O Indígena Que Há Devir

cultivar a Pertença integral e a descolonização humana

Marina Cató

Estas palavras são homenagem: ao povo Krenak, Tupí-guaraní, Inuit, Quechua, Inupiat, Iban… Estas palavras não são nascente, mas afluxo; são provocação ao inquérito-interno, meu e nosso – de quem esqueceu e a quem foram removidas as garras, o pêlo áspero, o gargalhar de água, a flexibilidade de caule, o olfato à humidade e os braços micelares. Acima de tudo estas palavras são apelo à dissolução do corpo Humano em busca do verdadeiro espaço que ocupamos na fractalidade de Tudo.

A Guerra dos Olhares

Celso Joabe

Existe uma guerra, travada entre os filhos daqueles que foram expurgados de suas terras e trazidos como escravos, e os filhos dos escravizadores. Uma guerra que não é só manifesta em assassinatos em massa da população negra, mas também acontece na estrutura do sistema, no campo dos olhares e do conhecimento. Uma guerra de perseguições acadêmicas e ideológicas, onde se impõe o estranhamento da imagem de um negro pensante. Colocam-no em um lugar de trabalho, fazendo algo que maltrate seu corpo, seu espírito, deixando livre a expressão do pensamento para quem tem o direito de pensar.

Uma Morte Asseadinha

Maria trincão maia

Sou filha de um professor filosofia, com um especial apreço pelo racionalismo alemão, e de uma jornalista, que andou oito anos num colégio de freiras o que lhe criou uma especial aversão às mesmas. Filha de quem viveu abril, nascida na loucura libertária dos anos 80. Não sou batizada, não fui educada como católica, embora seja tão difícil tirar o catolicismo da nossa pele e mente como tirar os ossos do nosso corpo vivo. 

Espíritos Domesticados

Sofia Batalha

Abelhas – Sento-me com os pés descalços no chão, a ver abelhas a dançar no meio das ervas rastejantes com pequenas flores, folhas e cogumelos. Toda a diversidade ao nível do solo envolve vários insectos, desde rastejadores a polinizadores. O solo está repleto de vida, e esta é meramente acima da superfície. Com as suas muitas facetas de vida, todas entrelaçadas, a terra está aqui, rigorosamente em fluxo, sustentando-nos, sob o seu diálogo primordial com o cosmos.

Colunas desta Edição

Ciclos da Terra e da Alma

ÍRIS LICAN GARCIA

Percorro o leito seco do rio
3 min. leitura

O Canto do Verbo

ANA ALPANDE

“O Vício Da Excepcionalidade”
3 min. leitura

Onde mora o coração, histórias e paisagens

ANA SEVINATE

“As horas: sobre a passiflora
2 min. leitura

Mil-em-Rama

MARISTELA BARENCO

Carta De Amor Aos Que Militam Por Outros Mundos
4 min. leitura

O Cântico dos Cânticos

AMALA OLIVEIRA

“Carta no Motel XX
3 min. leitura

Entrelaçamentos Inegáveis

TELMA LAURENTINO

“Deslinearizar pertença, Desinvisibilizar relação.”
3 min. leitura

No meio do anúncio vem o pedido: se vir comportamentos de riscos por favor ligue. E eu fiquei a perguntar-me se devia ligar a avisar que a Navigator defende a monocultura de eucaliptos, se estão a arrancar carvalhos para por painéis solares, que a monocultura apoiada e financiada continua a existir. Tantos comportamentos de risco que passaria o dia ao telefone com quem procura bodes expiatórios fáceis e pouco ágeis. Como diria o outro: é o país que temos!

Maria Trincão Maia

Maria Trincão Maia

Editora da Revista

Pessoa, às vezes. À procura de alguma coisa que não sabe o que é. Caminhante por margens, que às vezes anda de carro ou bicicleta elétrica. Uma espécie de estudante e uma estudante de espécie. Designer mas não sabe de que... ainda. Porém, quase preferencialmente: uma metamorfose ambulante.

  • instagram.com/maria.trincao.maia