Sétimo ciclo

53

1 Agosto 2024

Edição de Sofia Batalha

Ficha Técnica

Os artigos são da inteira responsabilidade do autor.

EDITOR

Sofia Batalha

DESIGN E PaGINAÇÃO

Sofia Batalha e Maria Trincão Maia

revisão

Margarida Trincão e Quelinha Caetano

crédito das fotos

Unsplash.com e fotografias dos autores 

Edição 53

Os quatro artigos desta edição convergiram organicamente numa linha comum, a dos monstros. Os monstros do passado que Dulcineia Pinto traz, os monstros da noite lembrados pela Maria, os monstros da psique moderna que volto a tecer neste número da revista, e Levitã, o monstro mítico do legado judaico-cristão, que Fabrice duBosc entrelaça com os desafios actuais. Várias metamorfoses monstruosas que filtram o nosso olhar e presença. Sendo que os monstros nos acompanham desde o início dos tempos, afinal são os nossos antepassados primordiais, que os possamos olhar apesar do susto ou da dissonância que nos possa causar. Que os arrepios que sobem pela espinha acima pela visão dos seus corpos imaginados e híbridos, nos abram espaço à metamorfose.

As Entranhas

Dulcineia Pinto

Visitar Las Medulas é como visitar um cemitério, bonito, silencioso e povoado de espíritos, contudo não posso esquecer toda a dor, mágoa e luto que o compõe. À medida que escrevo, resignifico muitas das palavras ditas pela Rosa, a minha guia, de como os indígenas se identificavam com o monte, eram o monte e da forma como me senti, frustrada e enraivecida pelos romanos que o destruíram.

Noite

Maria trincão maia

Acordo a meia da noite em casa do meu irmão, o meu sobrinho dá suficientes voltas na cama para que os seus pés estejam agora na direção da minha cara. A um movimento de ser ponteada por qualquer poder onírico. Durmo no chamado gavetão, a comum cama debaixo da cama das crianças para que possam receber alguém. Eu sou o seu alguém. 

Ideologia de E-S-C-A-P-E

Sofia Batalha

Re-encontrei este acrónimo, E-S-C-A-P-E, nos meus mil cadernos de notas. E, apesar de este ser apenas uma pequena síntese desta proposta em responsabilidade e maturação, achei que estava no momento de a traduzir e partilhar. Isto porque os convites à jornada da Ecopsicologia e as peregrinações da Eco-Mitologia estão profundamente enredados com esta importante prática de discernimento. Um aprofundamento da lenta tomada de consciência de como estamos real e profundamente – cultural, metabólica e ecologicamente – enredados em múltiplos contextos que derramam uma série de pressupostos sobre “como o mundo funciona”.

Comer o Levitã

FABRICE OLIVIER DUBOSC

Todos os que estão culturalmente expostos à fabulação especulativa judaica e cristã podem ter alguma memória do stress pós-traumático de Job, quando, no diálogo interno do próprio Deus sobre “o humano”. Um anjo trapaceiro afirmou que Job era um servo tão fiel porque ainda não tinha sido levado à tentação, que tudo corria bem, demasiado bem para ele. E assim Deus tirara-lhe tudo, a família, os bens, a saúde. Os seus melhores amigos culpavam-no de tudo, “é o teu karma, os teus pecados, a tua postura… e a tua tarefa individual é assumires a responsabilidade pelo que fizeste de errado”, e continuaram a tentar explicar e encontrar um sentido para o seu sofrimento deficiente. Depois da morte de todos os seus filhos, a sua mulher disse-lhe para se calar, amaldiçoar Deus e morrer. 

Colunas desta Edição

Mitologia Criativa

ÉLIA GONÇALVES

“Disseram-me as Alfarrobas”
4 min. leitura

Ciclos da Terra e da Alma

ÍRIS LICAN GARCIA

“Lealdade ao Selvagem”
1 min. leitura

Biografia dos dias sem princípio

INÊS PECEGUINA

“Mãos” – PARTE II
4 min. leitura

O Canto do Verbo

ANA ALPANDE

“Criar”
1 min. leitura

Onde mora o coração, histórias e paisagens

ANA SEVINATE

“Sobre a delicadeza e a metamorfose
1 min. leitura

Mil-em-Rama

MARISTELA BARENCO

“Ver. Resistir. Interromper. Inventar”
3 min. leitura

Estórias Simples

PATRÍCIA ROSA-MENDES

“A veia no teu pescoço”
5 min. leitura

O Cântico dos Cânticos

AMALA OLIVEIRA

“O Vôo Mágico e a Profecia de Si
3 min. leitura

Ecoespiritualidade

JORGE MOREIRA

“O (Re)nascer da Terra – Parte II”
3 min. leitura

No Espetro – Neurodiversidade
e Justiça Social

FÁTIMA MARQUES

Demasiado bom para este Mundo
4 min. leitura

Os quatro artigos desta edição convergiram organicamente numa linha comum, a dos monstros.

Os monstros do passado que Dulcineia Pinto traz, os monstros da noite lembrados pela Maria, os monstros da psique moderna que volto a tecer neste número da revista, e Levitã, o monstro mítico do legado judaico-cristão, que Fabrice duBosc entrelaça com os desafios actuais.

Várias metamorfoses monstruosas que filtram o nosso olhar e presença. Sendo que os monstros nos acompanham desde o início dos tempos, afinal são os nossos antepassados primordiais, que os possamos olhar apesar do susto ou da dissonância que nos possa causar.

Que os arrepios que sobem pela espinha acima pela visão dos seus corpos imaginados e híbridos, nos abram espaço à metamorfose.

Sofia Batalha

Sofia Batalha

Fundadora e Editora da Revista

Mamífera, autora, mulher-mãe, tecelã de perguntas e desmanteladora o capitalismo-global-colonial-tecnológico um dia de cada vez. Desajeitada poetiza de prosas, sem conhecimentos gramaticais. Peregrina pelas paisagens interiores e exteriores, recordando práticas antigas terrestres, em presença radical, escuta activa, ecopsicologia, arte, êxtase, e escrita.
Honor hystera. Re-member. Response-ability. (un)Learn together.


Autora de nove livros e editora da revista online Vento e Água, Comadre conversadeira no podcast Re-membrar os Ossos e em Conversas D'Além Mar. Instagram, Serpentedalua.com, Sofiabatalha.com