Workshops

Vento e Água – Ritmos da Terra

Foi no passado mês de Março, que demos início a uma nova vertente da Revista Vento e Água. Há falta de nomes mais originais, que nem sempre a originalidade é chamativa ou fácil, demos o título de Workshop Vento e Água.

Não se deixem enganar pelo domínio do Workshop, não são sítios de dicas, respostas prontas, ou mesmo dogmáticos. São espaços que expandem e contraem, que se diluem e se concentram em tentativas de delimitar os contornos da limitada psique eurocentrada.

E às vezes nem são espaços, são tempos entre espaços, um compasso em que se fala da complexidade do mundo em palavras que, enquanto mergulhamos, adquirem camadas. Seja esta enigmática descrição o suficiente para vos aguçar a curiosidade, para ficar atentos aos mais que se aproximam.

Não somos copywriters capazes de engajamentos massivos, somos mais poetisas de prosas animistas ou existencialistas, entre a tentativa de viver neste mesmo mundo em imanência.

Relembramos que os nossos Workshops Vento e Água não são gravados, queremos-vos em presença.

Chá de Urtigas

Dona Extinção e Senhorita Identidade

 

Nos workshops do Chá de Urtigas: haverá nova edição já no dia 19 de Setembro às 19.30h, com Ana Alpande. O tema é Chá de Urtigas – Dona Extinção e senhorita Identidade. Segue o link para te registares.

“Algo lento e intencional deseja transformar o edifício humano em solo.” 

Richard Powers, Overstory 

Dona Extinção e senhorita Identidade convidam-nos para um chá às 19h30 no dia 19 de Setembro, no café Maravilhamento, que fica na esquina da Rua Fim Do Mundo. Famoso pelas suas broinhas de curiosidade, os seus pastéis de sensibilidade e folhados recheados de humor e imaginação. O café dispõe de uma vasta gama de chás provenientes do tempo profundo, ricos em propriedades adaptativas e sabedoria mais-que-humana.

As nossas anfitriãs desejam acolher-nos no edifício do nosso sistema nervoso colectivo adornado pela experiência de cinco grandes extinções em massa e uma sexta a decorrer, desafiando as palavras que se calam na nossa garganta e que bloqueiam a traqueia a experimentarem um gole de chá ou um mini folhado.

Esta é uma oportunidade (dizem elas) de nos sustentarmos mutuamente no parto do indizível, convidando o insensível a deixar-se tocar por um abraço conjunto, onde cada corpo é recebido com o seu luto e luta, seus uivos e lamentos, suas culpas, vergonhas, potências, curiosidades e múltiplas inteligências.

Dona Extinção e senhorita Identidade oferecem-nos chá de urtigas frescas adoçadas com
beijinhos de compaixão. Vens?

Chá de Urtigas – Ossos Sagrados

Temos também novidades nos workshops do Chá de Urtigas: haverá nova edição já no dia 23 de Maio às 19h, com Íris Lican. O tema é Ossos Sagrados – Educação eco-somática e animismo. Segue o link para te registares.

Íris Lican Garcia

Sou a Íris. Sou Mãe, Terapeuta e Educadora Psico-Somática, Formadora de Fertilidade Consciente, Yoga Terapeuta, Doula, Mulher Medicina, Herbalista, Artista de Dança, Autora, Investigadora e ecologista. As minhas linguagens primeiras são a Natureza, a escrita e o movimento. Caminho, danço e escrevo desde que me recordo. O que me move é a vontade de cultivar equilíbrio sistémico a partir do respeito pela Natureza intrínseca de cada pessoa e sua experiência íntima e única,  em inter-conexão com as suas relações humanas e naturais, desde o lugar do corpo em proximidade orgânica com a Terra Viva.

Chá de Urtigas

Queremos mostrar-vos o lugar de passagem que fixámos no dia 7 de março com a Telma Laurentino. Mas primeiro é preciso saber quem é a Telma Laurentino.

Telma G. Laurentino

BIÓLOGA | EDUCADORA | ESCRITORA | ARTESÃ INTUITIVA | BIODIVERSIDADE – EVOLUÇÃO & GENÉTICA – SOCIOECOLOGIA – EDUCAÇÃO INCLUSIVA – PERTENÇA

Telma é bióloga evolutiva: estuda genómica de populações e como espécies diferentes evoluem e se adaptam a alterações ambientais. Nascida e criada em Portugal, viveu e trabalhou como investigadora em 2 outros países, e aprendeu com a biodiversidade em 5 continentes. Atualmente, foca-se no desenvolvimento de ensino inclusivo, para espaços de educação formais e informais, focado na complexidade socio-ecológica que habitamos. Escreve para processar os paradoxos da vida moderna e despertar os sentidos de ancestralidade comum e conexão ecológica profunda entre todos os seres vivos e o planeta Terra.
Experiencia a Terra com olhos de cientista, coração de poeta, pés de artista marcial, mãos de cuidadora, alma de guaxinim e riso de pêga-rabuda.

Telma G. Laurentino

telmagl.com

website

INTERLACINGS

KO-FI DONATE

Entrelaçamentos Inegáveis

Coluna

No Workshop Vento e Água – Chá de Urtigas o convite era para uma cartografia ecossistémica das urticárias curadoras da modernidade.

 

Tal como as urtigas crescem nos muros, desafiamos epistemologias modernas e estéreis que nos aprisionam em ideias individualistas que suportam violências ecossistémicas. Crescemos entre as fissuras do muro, filosofias de emergência coletiva que valorizam as relações profundas e regenerativas, e entrelaçam o individual com o ecossistémico. Juntos, ouviremos profundamente as urtigas externas e internas que escondem, na urticária, a cura.

A Telma trouxe um poema de autoria própria de que vos deixamos algumas estrofes, podendo ser lido na íntegra na coluna dela nesta edição.

Sou Urtiga de terras modernas e urbanizadas.                                                                                                  

Há quem me chame erva-daninha. Quem me odeie pela urticária que me defende de predadores e pegadas distraídas. Odeiam-me porque cresço em sítios “inconvenientes” onde o vento me plantou.

 

E foi através deste poema que traçamos a cartografia individual, conjunta, comunitária. Que a Telma recolheu e transformou num poema coletivo, como a própria escreve: em tom de manifesto, hino, feitiço, oração.

Acordo com medo, deito-me com urtigas

Acordo de manhã, violência ecossistémica:

Querer,

Crescer,

Extrair,

Tirar,

Receber.

Ó, coração conturbado…

Dizem-me as urtigas: afogas-te no teu individualismo e esqueces a medicina na

erva daninha.

Deixa-te picar!

Perder,

Chorar, Amar.

Acordo de manhã, com vontade de fazer perguntas que incomodam:

Ó, corpo conturbado…

Dizem-me as urtigas: Presta atenção!

De quem te esqueces nos teus consumos confortáveis?

A quem falta

Nutrir,

Cuidar,

Escutar, Amar.

Acordo de manhã, para abrir e sustentar conversas difíceis:

Ó, mente conturbada…

Dizem-me as urtigas: Que labuta e sofrimento invisibilizastes para vosso conforto?

Para

Explorar,

Habitar,

Sem culpa nem responsabilidade.

Acordo de manhã, e posso escolher não saber:

Ó, privilégio conturbado…

Dizem-me as urtigas: Coragem! Deserta o individualismo e re-tece na tua teia os indivíduos que olvidas, ervas-daninhas, mineiros, água, vítimas de guerra,

algodão, estrume, ovelha…

Piquemo-nos! para

Renascer,

Reencontrar, Respirar.

Deito-me á noite, indagando qual o equilíbrio entre desculpabilização e

responsabilização,

cheia de certezas, medos mascarados de razão, que não me deixam Aninhar,

Devocionar,

Orar,

Aprender, Ser.

Ó, ecossistema conturbado…

Dizem-me as urtigas: não tenhas medo.

A mudança sustentável nutre-se da criatividade, que vive na pergunta. As picadas estimulam, aquecem, melhoram a circulação, acordam-nos a

capacidade de sonhar diferente.

Fecho os olhos, e sonho com urtigas.

Um poema ecossistémico com vozes de: Urtica, Telma, Sofia, Maria, Iolanda, João, Sílvia, Fernanda, Luísa, Inês, Patrícia, Maria, Marisa.

Por fim deixamos-vos a Música das Urtigas captada pela Telma para que possam ouvir a voz destes incríveis seres.