Workshops
Vento e Água – Ritmos da Terra
Foi no passado dia 7 de Março, que demos início a uma nova vertente da Revista Vento e Água. Há falta de nomes mais originais, que nem sempre a originalidade é chamativa ou fácil, demos o título de Workshop Vento e Água.
Não se deixem enganar pelo domínio do Workshop, não são sítios de dicas, respostas prontas, ou mesmo dogmáticos. São espaços que expandem e contraem, que se diluem e se concentram em tentativas de delimitar os contornos da limitada psique eurocentrada.
E às vezes nem são espaços, são tempos entre espaços, um compasso em que se fala da complexidade do mundo em palavras que, enquanto mergulhamos, adquirem camadas. Seja esta enigmática descrição o suficiente para vos aguçar a curiosidade, para ficar atentos aos mais que se aproximam.
Não somos copywriters capazes de engajamentos massivos, somos mais poetisas de prosas animistas ou existencialistas, entre a tentativa de viver neste mesmo mundo em imanência.
Relembramos que os nossos Workshops Vento e Água não são gravados, queremos-vos em presença.
Chá de Urtigas – Ossos Sagrados
Temos também novidades nos workshops do Chá de Urtigas: haverá nova edição já no dia 23 de Maio às 19h, com Íris Lican. O tema é Ossos Sagrados – Educação eco-somática e animismo. Segue o link para te registares.
Íris Lican Garcia
Sou a Íris. Sou Mãe, Terapeuta e Educadora Psico-Somática, Formadora de Fertilidade Consciente, Yoga Terapeuta, Doula, Mulher Medicina, Herbalista, Artista de Dança, Autora, Investigadora e ecologista. As minhas linguagens primeiras são a Natureza, a escrita e o movimento. Caminho, danço e escrevo desde que me recordo. O que me move é a vontade de cultivar equilíbrio sistémico a partir do respeito pela Natureza intrínseca de cada pessoa e sua experiência íntima e única, em inter-conexão com as suas relações humanas e naturais, desde o lugar do corpo em proximidade orgânica com a Terra Viva.
- www.earthbodymedicine.com
- https://www.instagram.com/irislicangarcia/
- https://t.me/coracaodeurtiga – Coração de Urtiga 🌿
Reflexões vivas sobre Terra Corpo como Medicina: eco-filosofia, eco-mitologia, espiritualidade da Terra, herbalismo, movimento, arte e terapia eco-somáticos.
Chá de Urtigas
Queremos mostrar-vos o lugar de passagem que fixámos no dia 7 de março com a Telma Laurentino. Mas primeiro é preciso saber quem é a Telma Laurentino.
Telma G. Laurentino
BIÓLOGA | EDUCADORA | ESCRITORA | ARTESÃ INTUITIVA | BIODIVERSIDADE – EVOLUÇÃO & GENÉTICA – SOCIOECOLOGIA – EDUCAÇÃO INCLUSIVA – PERTENÇA
Telma é bióloga evolutiva: estuda genómica de populações e como espécies diferentes evoluem e se adaptam a alterações ambientais. Nascida e criada em Portugal, viveu e trabalhou como investigadora em 2 outros países, e aprendeu com a biodiversidade em 5 continentes. Atualmente, foca-se no desenvolvimento de ensino inclusivo, para espaços de educação formais e informais, focado na complexidade socio-ecológica que habitamos. Escreve para processar os paradoxos da vida moderna e despertar os sentidos de ancestralidade comum e conexão ecológica profunda entre todos os seres vivos e o planeta Terra.
Experiencia a Terra com olhos de cientista, coração de poeta, pés de artista marcial, mãos de cuidadora, alma de guaxinim e riso de pêga-rabuda.
Telma G. Laurentino
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Entrelaçamentos Inegáveis
Coluna
No Workshop Vento e Água – Chá de Urtigas o convite era para uma cartografia ecossistémica das urticárias curadoras da modernidade.
Tal como as urtigas crescem nos muros, desafiamos epistemologias modernas e estéreis que nos aprisionam em ideias individualistas que suportam violências ecossistémicas. Crescemos entre as fissuras do muro, filosofias de emergência coletiva que valorizam as relações profundas e regenerativas, e entrelaçam o individual com o ecossistémico. Juntos, ouviremos profundamente as urtigas externas e internas que escondem, na urticária, a cura.
A Telma trouxe um poema de autoria própria de que vos deixamos algumas estrofes, podendo ser lido na íntegra na coluna dela nesta edição.
Sou Urtiga de terras modernas e urbanizadas.
Há quem me chame erva-daninha. Quem me odeie pela urticária que me defende de predadores e pegadas distraídas. Odeiam-me porque cresço em sítios “inconvenientes” onde o vento me plantou.
E foi através deste poema que traçamos a cartografia individual, conjunta, comunitária. Que a Telma recolheu e transformou num poema coletivo, como a própria escreve: em tom de manifesto, hino, feitiço, oração.
Acordo com medo, deito-me com urtigas
Acordo de manhã, violência ecossistémica:
Querer,
Crescer,
Extrair,
Tirar,
Receber.
Ó, coração conturbado…
Dizem-me as urtigas: afogas-te no teu individualismo e esqueces a medicina na
erva daninha.
Deixa-te picar!
Perder,
Chorar, Amar.
Acordo de manhã, com vontade de fazer perguntas que incomodam:
Ó, corpo conturbado…
Dizem-me as urtigas: Presta atenção!
De quem te esqueces nos teus consumos confortáveis?
A quem falta
Nutrir,
Cuidar,
Escutar, Amar.
Acordo de manhã, para abrir e sustentar conversas difíceis:
Ó, mente conturbada…
Dizem-me as urtigas: Que labuta e sofrimento invisibilizastes para vosso conforto?
Para
Explorar,
Habitar,
Sem culpa nem responsabilidade.
Acordo de manhã, e posso escolher não saber:
Ó, privilégio conturbado…
Dizem-me as urtigas: Coragem! Deserta o individualismo e re-tece na tua teia os indivíduos que olvidas, ervas-daninhas, mineiros, água, vítimas de guerra,
algodão, estrume, ovelha…
Piquemo-nos! para
Renascer,
Reencontrar, Respirar.
Deito-me á noite, indagando qual o equilíbrio entre desculpabilização e
responsabilização,
cheia de certezas, medos mascarados de razão, que não me deixam Aninhar,
Devocionar,
Orar,
Aprender, Ser.
Ó, ecossistema conturbado…
Dizem-me as urtigas: não tenhas medo.
A mudança sustentável nutre-se da criatividade, que vive na pergunta. As picadas estimulam, aquecem, melhoram a circulação, acordam-nos a
capacidade de sonhar diferente.
Fecho os olhos, e sonho com urtigas.
Um poema ecossistémico com vozes de: Urtica, Telma, Sofia, Maria, Iolanda, João, Sílvia, Fernanda, Luísa, Inês, Patrícia, Maria, Marisa.