Mil-em-Rama

Coluna de maristela barenco

2 MIN DE LEITURA | Revista 33

A palavra-fio na tecitura de outros mundos

O que pode ser a palavra em um contexto planetário mundial de emergência dos chamados produtores de conteúdos e dos chamados influencers? A serviço de que mundo, de que ser humano e de que Comunidade de Vida (incluindo todas as espécies e seres) a palavra está e pode estar?  

Fomos acostumados a pensar que as palavras constituem meras ferramentas de comunicação. Esquecemos que as palavras são fios de uma trama que nos entretece ao mundo. Esquecemos que as palavras são manufaturas de nosso viver. E que quando orgânicas, guardam uma relação entre as nossas mãos, o nosso coração e o nosso pensamento. Palavras falam de mundos e de formas de estar no mundo. Há palavras que curam, que regeneram, que integram. E há palavras que adoecem e que dividem. Há palavras violentas.  

Daí que o ato de escolher uma palavra, entre tantas, é uma das artes raras, uma espécie de enxerto entre nós, os outros e a vida. A palavra que não é escolhida é mero reflexo emocional ou reprodução. Autoria é arte e envolve capacidade seletiva. Quando escolhemos uma palavra, dentro de milhões de outras que povoam a nossa linguagem, estamos a inventar, conscientes ou não, um tipo de mundo e humanidade. Todas as ideias, concepções, teorias e informações que compõem nosso universo subjetivo são expressões de uma modelização que nos antecede. A subjetividade é a matéria-prima de todas as produções. É preciso deixarmos a ilusão de que as nossas palavras se originam romântica e autonomamente dentro de nós. Somos uma espécie de terminais facilitadores de conglomerados de pensamentos que nos atravessam e que não se originam dentro de nós. Daí a importância de que cada um de nós possa se produzir para não ser apenas produzido. 

Neste contexto, as palavras são informações, são energias, têm materialidade.  As palavras são uma espécie de senha e marcadores que capturam pessoas e suas formas de viver. Entre o que pensamos e o que fazemos há uma palavra, coerente e eloquente, ou não. 

Como estar nas redes sociais e nos meios de comunicação e produzir outras palavras nos influxos destas? Com atenção, pensamento, sensibilidade e maestria. A proposta desta seção é ir manufaturando essas palavras que curam e regeneram, a nós e o mundo. O nome da seção, Mil-em-Rama, é um dos nomes da planta Achillea Millefolium, uma planta medicinal, que é analgésia, antibiótica, antimicrobiana, anti-inflamatória, adstringente, antirreumática, anti-hemorrágica, digestiva, estimulante e expectorante. Duas ações terapêuticas dela me fascinam: aliviar dores e favorecer a circulação. Tudo o que precisamos neste tempo! Mas eu a escolhi porque ela evoca multiplicidade! Ela traz mil ramas em uma rama. E deste contexto plural que quero pensar e criar as palavras. Que possamos seguir juntos!

A proposta desta seção é ir manufaturando essas palavras que curam e regeneram, a nós e o mundo.

Maristela Barenco Corrêa de Mello

Maristela Barenco Corrêa de Mello

Psicóloga e Doutorada em Ciências Ambientais

Formada em psicologia, com doutorado em ciências ambientais, estuda subjetividade, é professora universitária, idealizadora do Canal de Podcast Mil-em-Rama e participante do projeto Conversas do Além-Mar.

Professora do Departamento de Ciências Humanas do INFES - UFF
Professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino - PPGEn-UFF
Professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente - PPGMA-UFF

Instagram: @mil_em_rama
E-mail: maristelabarenco@gmail.com