Ciclos da Terra e da Alma

Coluna de Íris Lican Garcia

1 MIN DE LEITURA | Revista 52

A Água nunca se quebra

 

Às vezes escrevem-se poemas pelas minhas mãos.

Escorrem como gotas de Água deslizando lentas em pedras cobertas de musgo.

Este misturou-se com uma canção de trabalho minhota.

E assim se fez, para nos lembrar que há forças selvagens da Natureza e da Alma imperecíveis, incorruptíveis. 

 

Ninguém pode domar o Rio

E quem acha que o doma esquece

Que o Rio é vivo cio

E o cio nunca esmorece

 

Pode até adormecer

Deixar-se conter calado

Mas há-de voltar a erguer

Pela força do seu chamado

 

Ninguém pode domar o rio

Nem pode dominar o chão

Não se pode ter na mão a chama

Nem silenciar o trovão

 

Queriam-se as mulheres caladas

Silentes, em submissão

As crianças dissociadas

Os homens sempre em prisão

 

As águas do rio contidas

As plantas em produção

Os animais violentados

Os pés sangrando sem chão

 

«Trabalho mato o meu corpo

Não tenho nada de meu

Diga lá patrão António

Que pensamento é o seu?»

 

Quando a cantadeira cantou, 

Ergue-se a alma daninha

Aquela que todos pisam

E nunca ninguém acarinha

 

Aquela que nunca morre

Que por si mesma renasce

O rio debaixo do rio

Sendo sua própria haste

 

Ninguém pode domar o Rio

E quem acha que o doma esquece

Que o Rio é vivo cio

E o cio nunca esmorece

 

Leve o tempo que Levar

A Água atravessa a pedra

A Água atravessa o tempo

A Água nunca se quebra

Para citar este artigo:

GARCIA, Íris. A Água nunca se quebra. Vento e Água – Ritmos da Terra, https://ventoeagua.com/revista-52/a-agua-nunca-se-quebra, número 52, 2024

Queriam-se as mulheres caladas

Silentes, em submissão

As crianças dissociadas

Os homens sempre em prisão

Íris Garcia

Íris Garcia

Colunista e Autora regular da Revista

Sou a Íris. Sou Mãe, Terapeuta e Educadora Psico-Somática, Formadora de Fertilidade Consciente, Yoga Terapeuta, Doula, Mulher Medicina, Herbalista, Artista de Dança, Autora, Investigadora e ecologista. As minhas linguagens primeiras são a Natureza, a escrita e o movimento. Caminho, danço e escrevo desde que me recordo. O que me move é a vontade de cultivar equilíbrio sistémico a partir do respeito pela Natureza intrínseca de cada pessoa e sua experiência íntima e única,  em inter-conexão com as suas relações humanas e naturais, desde o lugar do corpo em proximidade orgânica com a Terra Viva.

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