2 MIN DE LEITURA | Revista 51

Positivo ou negativo? Todos

Em muitos casos, a forma como o pensamento positivo é apresentado é tóxica.
Olhar só para o lado bom das coisas e sentir apenas emoções “positivas”, é uma espécie de amputação emocional voluntária. Torna culpabilizavel qualquer tipo de sofrimento, algo da responsabilidade do sofredor e um fardo para as outras pessoas. Significa que gradualmente nos vamos começar a isolar cada vez mais quando sofremos, exatamente o contrário do que necessitamos.

É costume dizer tanto aos adultos como às crianças quando referimos as suas experiências, coisas do tipo: “já passou, em frente é que é o caminho”. Em vez de fazer a pergunta: Já passou? E ficar para ouvir a resposta.

Quando fazemos estas afirmações? Geralmente quando estamos em rejeição das nossas próprias histórias e dos nossos próprios sentimentos e não suportamos rever-nos na dor do outro.
Não é culpa nossa, pelo contrário, é dor e medo, e, no entanto, é extremamente doloroso para quem ouve.

Ver os seus sentimentos serem diminuídos e relativizados é como uma pancada na perna partida.
Fazemos parte de uma sociedade que se alicerça na negação… em relação ao clima, ao estado da sociedade e ao nosso estado emocional. Como geração, estamos ainda no rescaldo de muito trauma, relativo à guerra, às ditaduras, e à violência com que fomos criados.

Sobrevivemos, mas transportando as marcas emocionais para a geração seguinte, por causa exatamente da tal negação, negamos aos outros a compaixão e o amor que recusamos também a nós próprios.
É o negar e não o assumir, que impedem integrar e avançar. Algumas coisas não podem ser contornadas, têm que ser atravessadas e integradas, é assim com as emoções e com o nosso passado, individual e colectivo.

Acredito que se pode viver com qualquer história, por muito dolorosa que seja, se pudermos falar sobre ela sem vergonha, sem ser diminuído nem mandado calar, sendo ouvidos com compaixão e presença.