Ciclos da Terra e da Alma
Coluna de Íris Lican Garcia
3 MIN DE LEITURA | Revista 45
Vamos falar de Herbalismo?
Tenho tido muita vontade de escrever mais acerca deste tema, que é tão central desde sempre na minha vida.
O mais importante a dizer é: uma planta não se reduz aquilo que faz. As plantas não são apenas as suas propriedades medicinais e as suas propriedades medicinais não vão ser as mesmas para todas as fisiologias.
As plantas não se consomem.
A ideia de consumir ou usar plantas como se fossem objectos precisa de ser o primeiro passo na nossa reeducação sistémica. As plantas são seres vivos, conscientes, sencientes e sensíveis.
Isto quer dizer que:
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As plantas são seres vivos, sencientes, conscientes, sensíveis e existem no planeta há muitíssimo mais tempo do que os animais (dos quais fazemos parte).
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As plantas pertencem a uma espécie mas têm cada uma, individualmente, a dia personalidade. Para alguns povos indígenas de Turtle Island (actual EUA e Canadá) cada planta recebia um nome individual consoante a família a que pertence mas também o lugar onde cresce. Uma alfazema que cresça em Sintra num local mais húmido e outra numa planície alentejana teriam diferentes prefixos ou sufixos que falariam destas qualidades de Sol, Solo e chuva na constituição da estrutura física e personalidade da planta. Afinal, nós também pertencemos a uma família, mas não somos a nossa família. Nascer em Portugal ou na Mauritânia é certamente muito diferente para quem nos tornamos e como nós desenvolvemos.
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As propriedades medicinais das plantas não servem apenas para seres humanos. Servem, acima de tudo, para mineralizar o solo, criar a rede hídrica subterrânea que formará os rios nas florestas, renovar oxigénio, criar bancos de nutrição para si e plantas, animais, fungos, bactérias boas ao redor. A planta é parte indissociável do ecossistema e mesmo as plantas das nossas varandas são fundamentais para fomentar a população de insectos polinizadores e pássaros, por exemplo.
Daí que, as plantas não se consomem. Temos uma relação consciente com elas ou não vamos tirar qualquer benefício profundo do contacto com elas.
A ideia de consumir ou usar plantas como se fossem objetos precisa de ser o primeiro passo na nossa reeducação sistémica. Se queremos processos conscientes não podemos objectificar as plantas nem cair no grave erro de acreditar que existem para nosso consumo e benefício, porque recebemos colateralmente o tanto que as plantas doam ao ecossistema do qual fazemos parte. Sobretudo se recolhemos plantas selvagens temos que ter a sensibilidade de perceber claramente que as plantas não nos pertencem e não são para nós. Não temos o direito de colher o que nos apetece sem considerar o impacto que pode ter.
Para citar este artigo:
GARCIA, Íris. Vamos falar de herbalismo. Vento e Água – Ritmos da Terra, https://ventoeagua.com/revistas-online/revista-45/vamos-falar-de-herbalismo/, número 45, 2023
Sobretudo se recolhemos plantas selvagens temos que ter a sensibilidade de perceber claramente que as plantas não nos pertencem e não são para nós. Não temos o direito de colher o que nos apetece sem considerar o impacto que pode ter.
Íris Garcia
Colunista e Autora regular da Revista
Sou a Íris. Sou Mãe, Terapeuta e Educadora Psico-Somática, Formadora de Fertilidade Consciente, Yoga Terapeuta, Doula, Mulher Medicina, Herbalista, Artista de Dança, Autora, Investigadora e ecologista. As minhas linguagens primeiras são a Natureza, a escrita e o movimento. Caminho, danço e escrevo desde que me recordo. O que me move é a vontade de cultivar equilíbrio sistémico a partir do respeito pela Natureza intrínseca de cada pessoa e sua experiência íntima e única, em inter-conexão com as suas relações humanas e naturais, desde o lugar do corpo em proximidade orgânica com a Terra Viva.
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Reflexões vivas sobre Terra Corpo como Medicina: eco-filosofia, eco-mitologia, espiritualidade da Terra, herbalismo, movimento, arte e terapia eco-somáticos.