artigo de Raquel Perdigão Williams
Mulher “Luzitana”
3 MIN DE LEITURA | Revista 39
Quantas vezes evitei chamar o nome que as coisas têm por sinal de rebeldia? Muitas! Numa negação da minha própria natureza como mulher lusa, como mulher (luz)itana. Negando a minha terra, o meu sangue, o meu ar, as minhas águas, o meu alimento, os meus animais, as minhas plantas, as minhas linhagens, as minhas ancestrais. Negando o tempo e o espaço.
E enganem-se quando acham que eu possuo isto tudo! Ao que me refiro é a uma identificação intrínseca, a algo que transcende uma compreensão mental, mas que é sentida e vivida, ouvida e falada, passada de geração em geração. Gerações de muitas mulheres.
Não nego mais e apregoo o amor que descobri ao mergulhar na história da mulher lusitana e tudo (ao meu alcance) o que isso implica.
Mas afinal o que é ser uma mulher (luz)itana?
Sei, de forma sentida e não mental, que é ser luz. É imanar a verdadeira natureza da terra, das águas, do ar e do éter. É ser terra, é ser água, é ser ar e é ser éter. É ser o todo com expressões muito características. É cheirar determinados cheiros que têm nomes e histórias que passam de boca em boca. É cozinhar os sabores ancestrais. É sangue que corre neste corpo, nesta terra que não é minha, mas que é quem sou. É o correr das javalinas que protegem os seus pequenos javalis e lhes ensinam a resiliente vivência no solo. É ouvir o chamado das diferentes épocas e responder. Responder com memória que não se sabe logicamente de onde vem, mas que é inerente e magicamente corporal e tão sábia! Memória do solo. Memória da terra. Memória de seres que se vêm e outros que nem por isso.
Memória que responde e que é respondida.
Vejamos. O Outono chegou. O solo sabe. O solo responde. O solo sente.
Se eu sou solo, eu sei que é Outono, eu sei, eu respondo, eu sinto.
Eu, não pequena, não separada, não limitada. Eu. EU.
Eu, surgimento da Consciência como mulher, como mulher lusitana.
Mulher que responde ao solo, como solo. Que é planta que brota do solo e que segue a luz.
Aqui, numa área de solo luso, as plantas de Outono nascem, renascem, brotam. Eu broto.
Parece uma contradição, num Outono que chama a recolhimento, a ser raíz, a ser solo, a apodrecer, mas a verdade é que Outono é também vida, é broto, é luz ténue.
Mais forte ou menos forte, a luz é. A luz não deixa de o ser. E isso sou Eu. E isso é mulher. E isso é mulher lusitana.
Hoje, isso lembra-me a malva. Uma pequena luz na escuridão de solo preto, queimado. A malva que brilha depois das primeiras chuvas, na esperança de vida, na certeza da resiliência, no amaciamento da dor. Não porque a lusitana evita ou quer evitar a dor, mas porque no sentir há ferida. E a ferida dói. Dor que fortalece, mas que não convida de todo ao sacrifício só porque sim. A malva amacia. A malva atenua. A malva é um bálsamo de amor aos corações partidos.
A mulher (luz)itana é bálsamo, é resiliência, é poder amoroso.
A mulher (luz)itana usa orgulhosamente a sua espada e parte para a guerra.
A guerra da verdade, a verdade da terra, a verdade do coração, a verdade que se sente e que é mais profunda do que se pode ver.
Esta espada é feita de malvas que brotam de um solo ardido e que suave e tenazmente cortam o mal pela raiz.
Quantas malvas têm estas terras lusas?
Quantas mulheres usam sabiamente as suas espadas?
Quantas mulheres respondem em verdade?
Aqui mostro a minha espada. Aquela que me foi entregue por todas as minhas ancestrais.
Em terras lusas, sou mulher (luz)itana. No mundo sem fronteiras, sou (luz)itana.
E somos tantas! Tantas com espadas feitas de malvas!
Pois que estas espadas sejam erguidas e que todas as mulheres (luz)itanas expressem a luz que são!
(À malva e à mulher luz, lusitana).
E enganem-se quando acham que eu possuo isto tudo! Ao que me refiro é a uma identificação intrínseca, a algo que transcende uma compreensão mental, mas que é sentida e vivida, ouvida e falada, passada de geração em geração. Gerações de muitas mulheres.
Não nego mais e apregoo o amor que descobri ao mergulhar na história da mulher lusitana e tudo (ao meu alcance) o que isso implica.
Raquel Perdigão Williams
Co-fundadora do Awakened Body
Nascida em 1978, no Porto, Co-fundadora do Awakened Body, uma das Co-criadoras do Awakened Life Project e coordenadora e criadora de conteúdos do Evolusa. Cuidadora da quinta do Ribeiro do Sardal, juntamente com o seu marido David Williams.
Portuense com sangue transmontano nas veias.
Apaixonada pela Ciência, pela alquimia, pela Natureza, pelas palavras e pelas tradições nacionais.
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