artigo de Diana Santos e João Carqueijó
A sociedade do excesso num corpo que pede subtração
3 MIN DE LEITURA | Revista 37
Na alegoria da caverna, Platão fala de um grupo de prisioneiros que apenas conhecem como sua realidade uma variedade de sombras distorcidas projetadas nas paredes da gruta.
Assim somos nós, na nossa maioria, e na maioria dos nossos momentos: falsamente conectados às realidades dos nossos corpos, da existência dos outros e dos lugares, vivendo de sombras projetadas por diversas fontes – sejam elas familiares, culturais, sociais, – sendo, muitas delas, sombras distorcidas e inadequadas para nós, mas nas quais baseamos a realidade da nossa existência. Na verdade, não deixa de ser uma realidade, mas quão real ou contextualizada com o resto é esta realidade?
A sombra da escassez e da necessidade assombra-nos, faz muito tempo. Vivemos numa correria constante pela busca da próxima técnica, do próximo superalimento, fascinados pela complexidade e pelo exótico, iludidos por uma teia de argumentos construídos para nos convencer de que nos falta sempre alguma coisa.
E então aquilo que está aqui ao pé de nós? E o simples? E aquilo do qual sempre fizemos parte e está em nós? E então, tudo aquilo que somos?
Será que mais do que procurar algo que não temos, não podemos tentar entender melhor aquilo que já temos e somos?
Estamos inseridos numa cultura que nos molda para o excesso, quer-nos dependentes de bens que a maioria de nós não consegue produzir, retira-nos a disponibilidade e tempo para parar, observar, avaliar e questionar.
A nossa existência reflete todo este excesso.
Os nossos próprios processos corporais refletem este excesso, como é o caso, por exemplo, da respiração!
Denota-se como existe uma tendência generalizada nas pessoas para a chamada “respiração excessiva” que tem sido associada a diferentes problemas de saúde física e emocional.
Tendemos a ver a respiração como um ato mecânico em que não existe necessidade de observação ou correção de possíveis tendências prejudiciais: afinal, quão prejudicial pode ser a respiração? O ar entra e sai… que mais posso pedir?
A verdade é que a respiração se liga a vários aspetos, nomeadamente a qualidade do nosso sono, a nossa vitalidade, as nossas emoções, a nossa resistência física… E tudo isto pode estar a ser afetado simplesmente por um padrão respiratório inadequado, que por entre outras coisas, surge por um excesso de respiração.
Ao nos predispormos a conscientemente respirar menos, podemos perceber o tanto que podemos fazer com menos e o quão melhor podemos funcionar quando nos “desentupimos” do excessivo.
Torna-se um ato que iniciado no corpo, tem o potencial de espelhar toda a Vida, mostrando-nos o que mais precisa de diminuir. O que precisa de ser largado. O que precisa de descer. O que precisa de ganhar espaço. O que precisa de ser simplificado.
Torna-se um ato que iniciado no corpo, tem o potencial de nos conectar à Vida, de uma forma mais profunda, radical e essencial. Porque o acessório é limpo e já não ocupa espaço. Porque o vital ganha potência para surgir e ocupar.
A respiração reduzida não é a resposta a tudo – como nenhuma outra técnica ou abordagem. É no entanto, uma técnica que poderá ser uma mais valia em determinados contextos (consoante pessoas, fases, problemas de saúde…), atendendo sempre à diversidade de cada um.
Permitirmo-nos ao pouco, quando assim o nosso corpo e os ciclos nos pedem, permite-nos depois ir ao muito, melhor preparados para isso: como um recolher necessário de inverno e um detox de primavera, para poder florir no verão.
Nestes referidos contextos, se te permitires aprofundar no simples, a essência torna-se potencial!
Queres tentar?
A verdade é que a respiração se liga a vários aspetos, nomeadamente a qualidade do nosso sono, a nossa vitalidade, as nossas emoções, a nossa resistência física… E tudo isto pode estar a ser afetado simplesmente por um padrão respiratório inadequado, que por entre outras coisas, surge por um excesso de respiração.
Diana Santos e João Carqueijó
Fundadores do Centro Ayni
Parceiros no trabalho e vida, terapeutas, professores, dinamizadores de eventos e ocasiões e eternos alunos.
Acreditamos que o Todo, repleto de relações, fluxos e movimentos é maior do que a soma das partes isoladas e individuais, e com isto desenvolvemos em nós e no nosso trabalho, a noção de interconexão de partes, ideias, ferramentas e campos de atuação.
Com isto surge o Centro Ayni, um espaço baseado nisso mesmo: relação e troca. Situa-se fisicamente em Esposende, está direcionado para os nossos serviços de Kinesiologia, Respiração Terapêutica e Yoga, mas também aberto a eventos que acrescentem a esta teia complexa de visões.
Para além do Centro Ayni, nasceu também, em 2019, o Festival Um Todo ( www.instagram.com/festivalumtodo ), um Festival com o intuito de levar diversidade de temas, ferramentas e perspetivas, à população.
Em constante transformação, somos animados pelo não-saber do que mais daqui poderá surgir. E assim seguimos Caminho.
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