Ciclos da Terra e da Alma
Coluna de Íris Lican Garcia
1 MIN DE LEITURA | Revista 47
Boa Morte: cant’oração devocional
Chega devagar em sonhos
A voz de quem me deixou
Vida, canto, alento, brio
Ancestrais, Avó, Avô
A cada das 7 gerações
Acendo a vela e ofereço
Alimento, prece, chama
Minha vida é o fruto de quem antes de mim plantou
Agradeço cada passo
Pois cada um que me criou.
Agradeço cada gesto
O que fez e o que quebrou
Juntas numa mesma prece
Nossas mãos
Avó, Avô.
Atravesso a noite das Almas
Verão que finda, ceifa feita.
Agradeço mais ainda
Da vida a última colheita.
Quando a foice me levar
Possa eu ir sem resistir
Para assim poder honrar
Quem depois de mim tem que vir.
Deixo pão, água e vela acesa
Na encruzilhada fria
A cada alma uma mesa
Para acalentar a travessia.
A cada alma uma chama
Para guiar no caminho
Faça-se então a jornada
Com reverência e carinho.
Quando vier minha hora
Levo esta chama em mim
Chego às portas da Senhora
Que me trouxe até aqui.
Senhora da grande Roda
d’Azenha dentro do rio
Senhora que tece a Teia
Senhora que corta o fio.
A hora da minha morte
Há-de ser vivência minha.
Vou de mãos dadas nas tuas
Sendo velha e pequenina.
Olhando a estrela d’Alba
Atravessando o portal
Sem nunca perder a Alma
No abraço do rio e caudal.
Na hora da plena Morte
A cada sopro tão vivo
Onde se cruzam caminhos
E enlaçam direções
A Senhora nos acompanha
Dando voz às orações.
É tempo de reverência
É tempo de gratidão
É tempo de aprender
Que viemos ser chão coração.
Santuário
Chama acesa.
Coruja canta
Chuva cai.
Gratidão e acalento
Para quem chega
E para quem vai.
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Para citar este artigo:
GARCIA, Íris. Boa Morte: cant’oração devocional. Vento e Água – Ritmos da Terra, https://ventoeagua.com/revistas-online/revista-47/boa-morte-cantoracao-devocional/, número 47, 2023
Chama acesa.
Coruja canta
Chuva cai.
Gratidão e acalento
Para quem chega
E para quem vai.
Íris Garcia
Colunista e Autora regular da Revista
Sou a Íris. Sou Mãe, Terapeuta e Educadora Psico-Somática, Formadora de Fertilidade Consciente, Yoga Terapeuta, Doula, Mulher Medicina, Herbalista, Artista de Dança, Autora, Investigadora e ecologista. As minhas linguagens primeiras são a Natureza, a escrita e o movimento. Caminho, danço e escrevo desde que me recordo. O que me move é a vontade de cultivar equilíbrio sistémico a partir do respeito pela Natureza intrínseca de cada pessoa e sua experiência íntima e única, em inter-conexão com as suas relações humanas e naturais, desde o lugar do corpo em proximidade orgânica com a Terra Viva.
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Reflexões vivas sobre Terra Corpo como Medicina: eco-filosofia, eco-mitologia, espiritualidade da Terra, herbalismo, movimento, arte e terapia eco-somáticos.