Annabelle Berríos
O PARADOXO DA INTIMIDADE
Na sociedade moderna, muitos de nós têm sido lançados inconscientemente numa narrativa antropocêntrica que cada vez mais perturba a nossa intimidade connosco próprios, com outros seres humanos e com outras espécies do planeta. Embora os símbolos desta narrativa sejam visíveis nos nossos locais, podem parecer inócuos, dado que prometem conforto, conveniência e controlo.
Tomar consciência de como nos viciamos em substitutos higienizados da intimidade pode ser desolador, desanimador mesmo, especialmente porque não há nenhum remédio “puro” a possuir, nenhuma solução mágica para limpar a ardósia “limpa”, e nenhuma garantia de que “o fazemos correctamente”. As respostas ao reconhecimento da existência de uma narrativa antropocêntrica aparecem frequentemente em polaridades: ignorá-la/descrevê-la ou “corrigi-la”.
Convido-o a considerar:
- Como define a intimidade, e o que a torna desejável?
- Quais são as formas de experimentar a intimidade com o seu ambiente?
- Como diferenciar entre os substitutos da intimidade e a intimidade autêntica?
- Como é para si, manter perguntas abertas sem se apressar a respondê-las?
Nesta palestra, revelaremos o custo da aceitação cega do status quo, o sofrimento das falsas panaceias, e o poder e possibilidade do paradoxo.
Nascida no arquipélago que o Taíno nomeou Borikén e conquistadores espanhóis rebaptizado Porto Rico, reside actualmente em Huichin, o território não-cedido de Lisjan Ohlone agora conhecido como Berkeley, Califórnia. Licenciada pela Faculdade de Direito de Boston e pelo Instituto de Estudos Integrais da Califórnia, trabalha como consultora de impacto social e treinadora de liderança. É autora de um capítulo no livro “Terrapsychology”: Further Inquiry into Self, Place and Planet”, a ser publicado em 2023 por Routledge.
Jorge Moreira
DO MITO À ECOSOFIA
30 Março 2023, 7.30 – 8.15pm
Há histórias que se perdem nos tempos, mas que moldam os rumos humanos. Estas histórias encontram-se no âmago das mais diversas culturas e civilizações, retratando eventos cosmológicos, explicação de fenómenos naturais, sagas, heróis e deuses. Estes mitos, tradicionalmente imbuídos pela dinâmica da oralidade ou plasmados nas folhas de um livro, são a base de muitas religiões, rituais e condutas morais, encontrando-se, assim, enraizados no inconsciente coletivo, sendo responsáveis por grande parte das atitudes e emoções humanas de um povo. Se um mito narra um homem dominador e explorador da Natureza, essa será a idiossincrasia do povo que o abarca. A civilização hegemónica carrega alguns desses mitos e, também por esse motivo, é uma sociedade onde as desigualdades são gritantes e caminha para o caos climático e o colapso ecológico. Mas, se um povo tem na sua ancestralidade histórias que narram a igualdade de género e de espécie, histórias que falam de uma Natureza sagrada, de um mundo relacional e interconectado, esse povo terá como base ética o cuidado e o respeito por toda a vida.
A crise ecológica abriu o debate sobre a relação que temos com a Natureza. Nessa reflexão emergiram muitas perspetivas, algumas delas capazes de transpor os limites do antropocentrismo que delineia o nosso paradigma. É o caso da Plataforma da Ecologia Profunda, que procurou sentido nas mais diversas áreas do conhecimento humano. Colocou ao lado da ciência contemporânea, a filosofia, a espiritualidade, a prática de vida e o conhecimento ecológico tradicional. A investigação à volta deste último item expôs cosmogonias que repercutiam modos de vida verdadeiramente sustentáveis, influenciando o movimento ambientalista global. Por outro lado, os mitos estão carregados de simbologia e saber. Com as chaves certas podem enriquecer a ecosofia – uma ética consciente e dinâmica que se traduz numa prática de vida harmoniosa e de equilíbrio ecológico – que dá sentido interior ao indivíduo e, por osmose, torna-o numa força viva na mudança social necessária para inverter o mundo distópico que estamos a cavar.
Licenciado em Ciências do Ambiente, Minor em Conservação do Património Natural, mestre em Cidadania Ambiental e Participação, pela Universidade Aberta, e Doutorando em Sociologia pela Universidade de Coimbra. É bolseiro FCT e investigador do Centre for Functional Ecology, Science for People & the Planet da Universidade de Coimbra.
Vice-presidente da FAPAS – Associação Ambientalista para a Conservação da Biodiversidade; dirigente da Sociedade de Ética Ambiental, dos movimentos cívicos Alvorecer Florestal e Aliança pela Floresta Autóctone.
Tem desenvolvido investigação nas áreas da Ética Ambiental, Educação Ambiental, Sustentabilidade, Alterações Climáticas, Ecologia Profunda e Ecologia Espiritual, onde tem realizado conferências e promovido os temas.
Canto de Inês Ripamonti
30 Março 2023, 8.15 – 9pm
xxx
CANTAUTORA, FACILITADORA, EXPRESSÃO VOCAL AUTÊNTICA, ARTE CURA: CRIATIVIDADE AO SERVIÇO DO BEM-ESTAR