artigo de Joana Santos

Amor Colonizado

1 MIN DE LEITURA | Revista 36

Que amor é esse 

Que outrora se apaixonou?

Vibrou, vingou ou mudou

Mas agora frustrou?

 

Vieste ao chamado da terra

Com ela te quiseste envolver

Devolver? Ou enlouquecer?

 

Vieste dar, sem entender que aqui é lugar de receber

A intenção era boa mas este lugar

É para tecer

Observa irmão!

 

Aquilo que outrora amaste

Estás a querer destruir

Outra vez? Como os teus antepassados

Queres impor e partir

 

A terra que te chamou

Pulsa e expulsa

Por isso te sentes assim

E ainda assim, ela te alimenta

 

Observa irmão

Tira os óculos da colonização

Veste te de intuição

Escuta com o coração

 

Queres transformá-los à tua visão

Trazer para aqui

Aquilo que te fez fugir dali

Que paradoxo não?

 

Descoloniza essa mente

Render não é baixar os braços

É abrir o coração irmão

Olha com verdade

 

Olha como a vida sabe bem em frente ao mar

Olha como os loucos são parte do todo

Olha como se juntam

Como se cuidam

 

Quem disse que a vida é produzir?

Quem disse que a vida é evoluir?

Quem diz o que é a evolução?

A tua sabedoria não serve a eles não

 

Estás na terra deles

Sua sabedoria é sagrada

Se amas

Honra, escutando

 

Dá um passo atrás para veres mais longe

Não voltes cá para colonizar

Falando de solidariedade

Falando de amor, de valor

 

O que é o amor para ti?

Este país não se adapta à tua cultura

Pois bem, o que isso diz sobre o país?

Mais, o que isso diz sobre ti?

 

Tens boa intenção, eu sei

Mas não entendes o chamado desta terra 

Amas-te mais a ti do que a ela, será?

“Isto não vai a lado nenhum!”

 

Qual lado irmão?

Aquele que foste lá na Europa?

Ainda bem que não, já pensaste?

 

Tarrafal de São Nicolau, Cabo Verde (Maio 2022)

Vieste ao chamado da terra

Com ela te quiseste envolver

Devolver? Ou enlouquecer?

Joana Santos

Joana Santos

Sou da espécie homo sapiens, mamífera de género femenino e pele branca.
Nasci em Portugal, numa vila com um rio e passei a juventude entre a cidade, a serra e a praia.
Sou filha e sou neta, única.
Estou a aprender a ser humana, começando por questionar essa mesma condição.
Estou a desconstruir-me enquanto portuguesa, encontrando novas narrativas sobre o passado e o presente.
Estou a construir-me enquanto mulher, ainda a descobrir o tanto que isso quer dizer.
Estou a entender-me enquanto natureza, numa atitude bipolar entre a reverência e a hipocrisia.
Estou a atender-me enquanto alma, de expressão única, orgânica e livre.
Por último mas não menos inconstante, estou a render-me à complexidade de estar viva, reinventando-me, sem ir a lugar algum e ao mesmo tempo permitindo que tantos lugares me visitem.
Biograficamente é desafiante dizer quem sou, pela constante dinâmica de me entender ou definir por próprias palavras e perspectivas. Não me identifico pelo que fiz, nem pelo que faço ou gostaria de fazer, por isso resta-me a condição de ser!