Ciclos da Terra e da Alma
Coluna de IRIS LICAN GARCIA2 MIN DE LEITURA | Revista 36
A Raposa e a Natureza da Alma
Sento -me e sinto-me face à folha em branco.
Há um texto para escrever que em tudo se assemelha a uma vida por criar
Sempre me foi muito fácil escrever. Os textos de que mais gosto são aqueles que não têm tema e pode falar através de nós em vez de lhes forçamos a vontade.
Estou frente ao vale da Raposa, onde provavelmente vivem ainda algumas espécies fugidias deste ser extraordinário.
Tal como a Alma, a Raposa segue apenas o seu próprio desígnio. Indomável, é capaz de estabelecer diálogo e relação, se assim escolher ou se lhe for necessário.
Um animal tido como interesseiro, quando apenas procura viver de acordo com a sua vontade e necessidades. Não é isso que todas e todos fazemos?
Tantas vezes os nossos julgamentos são formas violentas de perceber as forças selvagens da Natureza interna e externa no seu ponto de convergência.
Olho o vale. Olhei este vale inúmeras vezes, pois aqui foi a minha primeira casa em Sintra. Mudei-me grávida, a Raposa acompanhou cada fase da gestação.
Algures entre a folhagem gosto de sentir a teia que nos une desde então. Que não precisa da visão para ser real, concreta e palpável porque essa é a natureza do afecto.
Perdemos a noção de que somos vistas e vistos por forças maiores que nos acompanham. Os pássaros que me olham ocultos nas copas das árvores, as árvores em si, o velho muro de pedra ancestral e angular, a água que corre ao longe e sabe que aqui estou sem precisar de saber quem sou, os insectos que sequer vislumbro, as silentes ervas daninhas, a presença inegável e inefável do Espírito sagrado que tudo permeia e enlaça.
Não posso deixar de me deslumbrar e comover com um Amor, reverência e gratidão que não cabem em palavras: também eu sou parte deste mistério vivo, sagrado e constante em criação.
Também eu sou parte. Sou vista além da minha identidade, na minha presença amorosa ora serena ora conturbada, mas aqui em relação.
Somos parte da Viva teia que tudo permeia. Sabe-lo é poder viver e morrer em Paz.
Um animal tido como interesseiro, quando apenas procura viver de acordo com a sua vontade e necessidades. Não é isso que todas e todos fazemos?
Íris Garcia
Colunista e Autora regular da Revista
Sou a Íris. Sou Mãe, Terapeuta e Educadora Psico-Somática, Formadora de Fertilidade Consciente, Yoga Terapeuta, Doula, Mulher Medicina, Herbalista, Artista de Dança, Autora, Investigadora e ecologista. As minhas linguagens primeiras são a Natureza, a escrita e o movimento. Caminho, danço e escrevo desde que me recordo. O que me move é a vontade de cultivar equilíbrio sistémico a partir do respeito pela Natureza intrínseca de cada pessoa e sua experiência íntima e única, em inter-conexão com as suas relações humanas e naturais, desde o lugar do corpo em proximidade orgânica com a Terra Viva.
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Reflexões vivas sobre Terra Corpo como Medicina: eco-filosofia, eco-mitologia, espiritualidade da Terra, herbalismo, movimento, arte e terapia eco-somáticos.