artigo de sofia batalha

Dialogar com o Futuro

12 MIN DE LEITURA | Revista 33

Um convite ao diálogo crítico e imaginativo com o futuro.
Mantemo-nos em ligação aos territórios futuros subjectivose misteriosos.
Abrimo-nos ao que emerge em comunidade, vitalidade e flexibilidade.
Sustemos a diferença e toleramos o conflito.

Quero trazer-vos uma visão diferente do futuro (inspirada e adaptada do programa de literacia do futuro de R. Miller na UNESCO), pois, normalmente olhamos para o futuro de maneiras pré-estabelecidas. Então convido-vos a explorar o que é isto do futuro, que quando falamos de futuro, falamos necessariamente de subjetividade, de diversidade e também possivelmente de conflito.

Os vários futuros podem entrar em confronto, por isso é importante abrir um diálogo inteiro com o futuro, não esquecendo que um diálogo é sempre recíproco e bidirecional.

Desde que nos abrimos a um diálogo com o futuro ele pode responder, e essa é a maravilha de podermos dialogar com o futuro. Os temas da ancestralidade, das narrativas e da imaginação são fundamentais para olharmos para o futuro de outras perspetivas. O que vos trago é a ideia que o futuro não é um espaço vazio, não é um espaço lá longe, lá fora ou inerte. O futuro é ativo e intenso, tal como o passado.

Pode parecer um paradoxo, mas podemos relembrar o futuro. E esse é o poder de trabalharmos de forma contextual e imanente.

Viver em ciclos e imanência não pressupõe trazer receitas ou técnicas, mas apenas a arte de fazer perguntas, um convite ao processo de questionar de diferentes perspectivas. 

Como olhamos para o futuro hoje em dia, é como algo inatingível, lá fora, para lá de nós, para lá do nosso presente, para lá de quem somos. A ideia que vos quero trazer é que o futuro é imanente, ele já existe, pois, está em permanente co-criação por todos nós, a cada momento, a cada decisão e a cada ideia. Esta ideia do futuro imanente muda completamente a forma ou perspetiva como podemos construir ou co-criar o futuro. Porque quando olhamos para o futuro como estando completamente aqui, ligamo-nos e podemos ser transformados por ele e transformá-lo, o que faz com que o futuro seja sempre nosso. O futuro nunca lhe está lá fora, está nos ossos, no sangue. Tal como o passado.

Então segundo esta perspetiva é importante sustentar a ideia da identidade e personalidade como uma passagem. Somos passagens, encadeamentos de linhagens e contextos. Vamos pegando nesses vários fios, reconstruindo e tecendo o futuro a cada momento. O futuro é imanente porque está sempre e constantemente a ser construído, sempre a emergir. E este verbo é importante, emergir. Refiro agora dois conceitos básicos. Primeiro a palavra futuro vem do latim e quer literalmente dizer “o que vem a seguir”, “o que está para ser”, “o que está para vir”, “o que está para além do momento presente”. Usamos também a palavra futuro com associações a destino, a horizonte, a metas, rumos ou rotas. Quando vamos daqui para ali o futuro está lá, é um sítio, um lugar, uma paisagem. Segundo, desde a antiguidade de que trazemos biológica e quimicamente, incorporado no corpo capacidades inatas de contactar e de trabalhar com o futuro. E, desde a antiguidade, que todas as culturas à roda do globo desenvolveram formas de contactar formas de prever, trabalhando o futuro, os chamados métodos oraculares e proféticos, tão variados como as culturas do mundo. Sempre baseados em cerimónias, rituais, imaginação, simbologias e mitologias.

Co-criados por pessoas e comunidades atentas à subtileza e subjectividade da complexidade e interpretam padrões e sinais caleidoscópicos. Todos temos essas capacidades e possibilidades. 

Quando somos aculturados num contexto que nos diz que a única verdade é a que é mensurável e factual, que só o que é medido, só aquilo que é facto, só o que é número, é que é verdadeiro, começamos a ficar desligados do futuro, porque não é mensurável.

Precisamos de encontrar outras formas de olhar para além da matéria-linear-cartesiana-mensurável, para além dos factos que nos separam das ligações subtis.

Uma autora que trabalha com o futuro diz: “pensamos muitas vezes que as ações do presente mudam o futuro, mas é como olhamos para o futuro que muda as ações no presente”, aqui encontramos pistas de como podemos interagir com o futuro a partir do presente. Não é novidade que conseguimos remembrar e relembrar a ancestralidade, mesmo a partir de pequenos fragmentos, pois o legado e ancestralidade está em nós e a pergunta que deixo é porque não fazemos o mesmo com o futuro? Pois, se somos seres plurais e multidimensionais porque não o futuro? O futuro também nos habita.

As viagens extáticas e oraculares, eram pedidos a pessoas que cruzavam fronteiras, num diálogo bidirecional com o mistério, que trazia notícias de como melhor viver, para que sítio ir, o que seria melhor fazer ou qual a melhor decisão a tomar. A nossa relação com o futuro muda a capacidade de decisão. Se sinto o futuro amedrontador ou suave e gentil, são estas crenças que moldam as minhas decisões do agora. O futuro molda o presente, e estas crenças sobre o que será possível, provável ou desejável no futuro molda constantemente as nossas decisões no presente. Esta perspectiva não é óbvia para nós.

Diferentes formas de olhar o futuro

Essencialmente é um trabalho de revelação, de forma honesta e humilde. Quais são os nossos pressupostos e crenças relativamente ao futuro? Podemos fazer o exercício de ir ao futuro, viajando até ao ano 2060. Observamos como alguém equivalente a nós de hoje, com um contexto semelhante de vida, vive. Imaginamos como essa pessoa se sente, conectamo-nos ao seu contexto e relações. Como é o seu ambiente de casa? Quem vive com essa pessoa? Como se sente com o seu corpo? Qual é a sua relação com o exterior? Qual é a sua relação consigo própria? O que esta pessoa de 2060 quer? Qual foi a imagem de uma frase? O que se destacou? O que ficou mais forte? 

Estas são revelações imaginadas e essenciais que nos ajudam a mudar de perspectiva, pois, o desafio é que a forma comum de usar o futuro é altamente determinista, condicionada e limitada.

Genericamente temos duas maneiras de olhar para o futuro.

Uma é por probabilidades ou previsões, uma forma lógica do hemisfério esquerdo do cérebro, concretizando fantásticas capacidades de planeamento. A ideia das probabilidades diz que o que está mais forte agora concretizar-se no futuro. Depois temos os nossos desejos para o futuro, através dos nossos sonhos e esperanças. São estas duas fórmulas com que normalmente construímos o futuro, uma tecnocrática e lógica, e outra emocional. Ambas válidas, mas limitadas, porque não saem do âmbito e crenças do presente ou do passado. 

E se estivéssemos em 1920?

Se fossemos a 1920 e descrevêssemos a vida de agora, seria algo completamente estranho. A tecnologia não estava assim tão presente na vida das pessoas. O futuro que vivemos agora é algo que, para alguém em 1920, seria completamente estranho. Porque o que uma pessoa poderia imaginar com a informação cartesiana e lógica desse momento, resulta sempre numa relação com o futuro limitada. Não digo que a capacidade inata de perceber as probabilidades, de prever, ou que os desejos, esperanças ou sonhos de futuro, sejam inválidos ou errados. Digo apenas que essa é uma das formas de colonizar o futuro e, a colonização do futuro, é não deixá-lo livre para que o que realmente tenha que emergir emerja. À partida o futuro não é colonizável, contudo em termos económicos, legais e governamentais um ser humano do futuro só vale dois terços, mais trinta anos já só vale um terço. Isto é usado para decidir se se fazem investimentos a longo prazo e, porque as pessoas do futuro não têm o mesmo valor que as pessoas do presente, estamos automaticamente a colonizar o futuro. Estamos automaticamente a retirar energia do futuro, a hipotecar o futuro em função das necessidades de hoje em dia e isto faz com que o legado que deixamos é extrativista. Extraímos tudo para termos o que quer que julgamos que temos direito.

Então cabe-nos fazer o difícil movimento de destrinçar delicadamente as crenças e narrativas que constroem o futuro, gentil e subtilmente separar os fios de pessimismo e otimismo, para podermos imaginar e co-criar livremente. Pois, de outra forma estamos apenas a replicar algo que já acontece, pois essencialmente limitamo-nos a usar o futuro para planear desde as mais pequenas metas e objectivos até às grandes mudanças de vida. 

Três formas de trabalhar o futuro

Existem três formas de trabalhar o futuro. Temos os futuros silenciosos, sendo os que trabalhamos ativamente porque julgamos que vão acontecer ou não, mas não queremos falar sobre isso. É quando o futuro nunca é abertamente discutido ou falado. O que se espera do futuro? Por onde nos dirigimos? Seja a um nível individual, familiar ou comunitário estamos sempre a co-criar em várias camadas. Os futuros silenciosos contêm um silêncio ensurdecedor das próprias expetativas, que não queremos assumir ou sequer sabemos que temos. Tudo isto torna o futuro bastante limitado, pois não está livre das próprias expetativas, nem do medo inerente de lidar com isso.

Temos os futuros retóricos, que também se chamam litanias culturais. São os futuros criado em termos políticos e governamentais, legislações, planos comunitários, mas não necessariamente cooperativos e sempre baseados em sistemas financeiros e económicos. Estes futuros retóricos são baseados em estereótipos e muitas vezes são vazios de conteúdo ou relação. São futuros impostos cujo motivo é implícito, havendo outras motivações por baixo da mesa, não comunicadas ou assumidas. 

Depois há os futuros garantidos, projetados a nível individual ou comunitariamente, como se não houvesse alternativa, como sendo a única meta, solução, movimento ou conclusão possível. Sem diversidade ou alternativa este futuro é também uma ideia altamente colonizada e monolítica, pois não considera a complexidade sistémica do contexto emergente onde vivemos.

O Futuro é Diverso

É importante lembrar que nada é garantido, seja o bom ou o mau, há sempre surpresas. O grande desafio é desaprender o olhar determinista e resgatar a co-criação do futuro. Da forma determinista tentamos sempre prever, sem querer errar, seja lógica ou emocionalmente o que se segue. Precisamos de sair dessa esfera determinista para ter maior liberdade para pensar, sentir e imaginar o futuro. Todos conseguimos revelar os padrões das teias vivas e subtis, mas para isso temos de modificar a forma linear como olhamos para o futuro. É importante tornarmos os pressupostos e expectativas visíveis. Humilde e honestamente o que espero que do futuro? O que seria um futuro estranho que não ocorresse?

É fundamental a revelação das nossas premissas e presunções, o que pressupomos que o futuro traga, positiva ou negativamente. Num lugar seguro que nos ampare começamos a puxar o fio da expectativa e de repente surgem os medos e esperanças de que dependem as nossas narrativas internas, culturais e crenças. Nestes pressupostos replicamos o padrão inconsciente na construção de um futuro específico.

Na antiguidade, o contacto com o futuro era feito de modo cerimonial e ritual, em êxtase visionário. O êxtase permite-nos passar a porta do mistério, a porta da lógica factual monolítica cartesiana, individualista e competitiva e permite-nos chegar a uma relação mais humilde onde podemos realmente, em disponibilidade e presença, conectar com o que possa vir. O futuro também é planear, mas, não só, pois é muito mais rico, presente e profundo. A capacidade de planeamento foi essencial para a sobrevivência, seguindo os padrões sazonais da natureza, mas perdemos algures pelo caminho a chave de conexão com o invisível, com o que não se vê, ou não se mede, com a subjectividade da não-matéria. E o futuro, como é tudo isso (invisível, não mensurável e uma subjetividade imaterial), ficou condenado à inexistência.

DESDE QUE COMEÇAMOS A MODIFICAR, A ALTERAR E A TOMAR CONSCIÊNCIA DA FORMA COMO IMAGINAMOS E CO-CRIAMOS O FUTURO, COMEÇAMOS A FICAR MAIS ABERTOS E SENSÍVEIS AO QUE EMERGE REALMENTE. A SEGUIR À ESPONTANEIDADE SEGUE-SE A IMPROVISAÇÃO, ALGO OPOSTO À NARRATIVA CULTURAL DE CONTROLE QUE NOS ENVOLVE.

Desde que nos abrimos à riqueza viva e imanente do futuro conseguimos entender e sentir a delicadeza da sua presença constante, ficando disponíveis para observar e vivenciar em relação ao que é tecido constantemente. É aqui que acedemos ao pensamento complexo. O pensamento complexo dá-nos a fantástica permissão de abraçarmos a incerteza e de trabalharmos com o valor da profundidade e dos padrões fractais, em disponibilidade multidimensional. Abre-nos ao que é. Não há o que deveria ser. Não ao que era suposto acontecer porque eu mereço ou, porque eu fiz ou, porque eu fui para ali ou, porque eu decidi. Não. 

Trabalhar o tempo multidimensionalmente é riquíssimo porque nos ajuda a integrar várias possibilidades. Estamos sempre a trabalhar no campo das possibilidades. Todo o nosso presente fica diferente quando abraçamos a multidimensionalidade do futuro e começamos a ficar atentos às tais narrativas, que só começam a ficar conscientes quando nos permitimos revelar as limitações na visão, construção e co-criação do futuro.

Estas narrativas são tanto individuais como coletivas, comunitárias e mesmo culturais. Um dos grandes pressupostos da nossa cultura relativamente ao futuro, é que tem que ver com crescimento e progresso. Quando começamos a desvelar esta meta-mensagem cultural, percebemos que o futuro não implica apenas e só crescimento, evolução ou progresso. A questão é que o futuro não é apenas humano e a cocriação multidimensional em presença nunca é um ato solitário ou individual, mas sempre um ato comunitário trans-humano. O futuro é selvagem e nunca o vamos compreender na totalidade, mas podemos contribuir em presença então num diálogo imaginativo com a vida. É sempre a vida. O poder nuclear e fundamental da vida. Quando tornamos o futuro consciente em nós este diálogo ativa-se e o futuro responde.

O futuro além de nunca ser individual não é único, pois é sempre diverso, há muitos futuros. Trabalhar o futuro em consciência e dialogar com ele de forma consciente é um convite ao sonho coletivo. O enorme desafio de hoje em dia é vivermos numa sociedade construída sobre os fios de uma narrativa isolada, competitiva e individualista que nos diz que “eu tenho que trabalhar para o meu futuro, escolher, concretizar e planificar”.  As culturas contextuais dos primeiros povos de todo o globo, na sua infinita sabedoria complexa e antiga, dizem-nos que o futuro é sempre sonhado coletivamente. O sonho coletivo é confundido por ideais unos e absolutistas, onde as pessoas que o criam estão todas sempre de acordo e não há confronto ou conflito! Mas o sonho colectivo não tem que ver com consenso ou sequer visão partilhada. Isto para a nossa cabeça ocidental é um pouco paradoxal no mínimo, mas é muito mais rico quando trabalhamos em diversidade muito mais difícil e complexo. O absolutismo em que vivemos é monolítico e simplista, porque só uma há só verdade, ideia ou futuro. Ao trabalharmos com a riqueza inteira da vida seja no passado, presente ou futuro, encontramos o valor e potência destas várias perspetivas do sistema fractal em que vivemos, onde as várias perspetivas sempre existiram e sempre existirão. Assim como há várias verdades, há vários futuros em função do bem comum.

Caminhos diferentes 

Como temos visto há muitas e diferentes perspetivas e possibilidades de configuração do futuro. Trabalhar com o futuro em imanência não é evitar o conflito ou confronto. Isso seria uma ilusão perigosa que evita mergulhos e diálogos entre diversas perspectivas e percepções, pois nunca estaremos completamente de acordo, os meus medos não têm de ser os medos do outro e vice-versa.

O que é comum as culturas contextuais que temos falado? É que estão sempre a trabalhar na geração seguinte ou, no limite, à sétima geração, num futuro coletivo, o que difere do futuro competitivo, isolado e individual da nossa cultura.

Investir num futuro para o outro, para a linhagem, contexto ou comunidade, num futuro em constante emergência e a demonstrar-se. Onde, em diálogo mais que humano, recebemos pistas subtis na sua complexidade e delicadeza. É muito mais fácil fazermos ou estarmos alerta para este diálogo constante com a consciência honesta, humilde e crítica dos nossos próprios pressupostos como temos falado, porque sem essa consciência torna-se bem difícil. 

Expectativas

Quem já me ouviu falar sobre expectativas e o quão corrosivas, o quão tóxicas elas podem ser? E todos temos expectativas. A questão é permitirmo-nos ser flexíveis perante as nossas próprias expectativas, porque o problema destes pressupostos, do que “assumo que será” é silencioso e invisível ao próprio. Podemos nem saber que temos determinadas condicionantes de expectativas, temos umas lentes de expectativas com a quais vemos o mundo e ficamos desiludidos, chateados ou frustrados quando não se concretizam. E agora imaginemos o que isto faz a nível coletivo. Abrirmo-nos às condicionantes individuais e culturais de como geramos o futuro a cada momento é um processo sem fim, é uma viagem, uma história a construir constantemente. Escrevemos e a apagamos constantemente.

A co-criação do futuro é um processo altamente participativo e isto é muito importante também porque nós muitas vezes sentimo-nos impotentes, pois geralmente perante o futuro que imaginamos enformado pelos nossos medos e ideias, sentimo-nos como espectadores desse futuro, que acontece fora de nós.

Numa perspectiva imanente o futuro desnovela-se, materializa-se e concretiza-se paradoxalmente desde o presente, num diálogo altamente participativo e em consciência. Deixamos de ser espectadores de um futuro lá fora de mim, passamos a ser testemunhas ativas e inteiras do presente, estando presentes! E o que é a presença hoje em dia nesta economia de atenção? Numa sociedade e cultura que compete permanentemente pela nossa atenção e tempo. É dilacerante. E esse é também o desafio de olharmos para o futuro de uma perspetiva de produtividade. O nosso valor existe por existirmos e não apenas por produzirmos, o nosso valor existe por sermos testemunhas presentes e co-criadoras do futuro e temos essa responsabilidade. Somos agentes transformadores de mudança nas mais pequenas coisas e mesmo não tendo um impacto a nível governamental ou ao nível de nações, podemos ter um impacto na família, nos nossos filhos, na nossa rede mais íntima. Pois, na verdade, é aí que a vida se desenrola, na intimidade do dia a dia. É mais que necessário acordarmos como testemunhas inteiramente participativas neste diálogo.

Estamos sempre a tentar controlar o futuro

Estamos sempre a tentar balizá-lo, estruturá-lo, o que significa que não o deixamos livre para o que emerge. 

A economia de atenção em que vivemos desfoca-nos esta atenção subtil das coisas, de estarmos presentes na subjetividade das coisas, retira-nos do fascínio valiosíssimo do mundo e concentra-nos apenas nos factos de calendário.

O futuro como mapa é sempre uma cartografia plural, relacional e um processo comunitário, uma geografia complexa e diversa. Temos a ilusão que o simples é melhor o que não é verdade, porque o complexo (não o complicado) é rico e não somente linear ou causal. O mapa do futuro é composto de paisagens e espaços temporais onde residem histórias, metáforas, símbolos, mitos e memórias e sempre navegado pela imaginação.

Ansiedade perante o futuro

Há a ansiedade perante o futuro, quando o sentimos vazio, não vivo, quando nos encontramos desconectados dos fios que nos conectam estão totalmente invisíveis e não os sentimos, ou seja, não conseguimos tecer. Não sentimos que temos potência, possibilidade, presença, força ou decisão porque estamos confinados e isolados, estamos com a mente no futuro. O nosso coração está preso então não sentimos a vida e isso é uma grande dor.

Quando começamos a tomar consciência do que nos prende, dos medos, é aqui que começamos a trabalhar de forma honesta, inteira e humilde sempre navegando ao sabor da imaginação. Não é por acaso que hoje em dia há muitas pessoas que sofrem dessa ansiedade gigante porque a imaginação é tomada como algo não válido, não real como uma perda de tempo. A imaginação salva vidas, pois é uma das nossas ferramentas mais antigas para solucionarmos problemas complexos. Os problemas que se nos apresentam colectivamente em termos culturais são altamente complexos, então, mais que nunca precisamos de reclamar a imaginação como algo essencial, para podermos sentir essa vida latente, para podermos criar relação, ouvindo e estando presentes.

Referências:

As viagens extáticas e oraculares, eram pedidos a pessoas que cruzavam fronteiras, num diálogo bidirecional com o mistério, que trazia notícias de como melhor viver, para que sítio ir, o que seria melhor fazer ou qual a melhor decisão a tomar.

É mais que necessário acordarmos como testemunhas inteiramente participativas neste diálogo.

Sofia Batalha

Sofia Batalha

Eco-Mitologia e Ecopsicologia; Fundadora e Editora da Revista

Mamífera, autora, mulher-mãe, tecelã de perguntas e desmanteladora o capitalismo-global-colonial-tecnológico um dia de cada vez. Desajeitada poetiza de prosas, sem conhecimentos gramaticais.

Peregrina pelas paisagens interiores e exteriores, recordando práticas antigas terrestres, em presença radical, escuta activa, ecopsicologia, arte, êxtase, e escrita.

Certificada em Ecopsicologia e Mitologia Aplicada pela Pacifica University, nos EUA. Saber mais sobre mim aqui.

*Homenagear hystera. Recordar a capacidade de resposta. (des)aprender em conjunto.

Podcast Eco-Mitologia
Autora de 11 livros & 2 (Des)Formações
Website . Instagram . SubstackSerpentedalua.com

Nova imersão

Programa intensivo Imanência Selvagem – Começamos em fevereiro.

 

Subscrição

Curso Feng Shui Lunar com ou sem acompanhamento de Especialização.

Investigação Liminal

Desencantar as Mouras – Começamos em Março!