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O mundo ocidental procura uma ligação perdida com o selvagem.

Fazemos viagens entre mundos através de meditações guiadas, reconhecemos o rufar de um tambor xamânico, o coração reconhece a batida do tambor e interliga-se à terra.

Viajamos para descobrir animais de poder, ritualizamos os gestos que não compreendemos. Enchemo-nos de uma espécie de orgulho guerreiro quando os animais se apresentam. Agarramo-nos a essas imagens de animais selvagens, grandes, poderosos, como a última validação do quão especiais somos. Dançam leões, tigres, lobos. Quanto mais poderosos melhor, achamos nós. Depois porque estamos todos fartos e a maior parte das vezes não sabemos exactamente do que estamos fartos, presos, cansados. Enchemos o nosso imaginário, o nosso campo visual com a representação desses animais. Focamo-nos na sua na beleza e grandiosidade. Mas moldamos esses próprios animais à nossa forma de ser ocidental. Por isso criamos lobos que são o melhor amigo das mulheres e homens, tigres que são calmos gatinhos de colo.

Domamos e castramos os tais animais que nos vieram salvar, que representam a “nossa própria essência”, que são guias, que são algo que não sabemos e as vezes não queremos saber… então continuamos domados, castrados e presos.

Porque queremos dançar com tigres, mas não lhes queremos ver os dentes. Porque queremos chamar a nós o poder do selvagem, mas não estamos preparados para a imprevisibilidade, para o instinto e violência do selvagem. Porque um animal selvagem não vai ficar deitado calmamente se não estiver bem, vai rosnar, vai-se atirar, vai-se defender até ficar novamente no seu lugar, e o seu lugar é e será sempre selvagem. Mas nós ocidentais temos essa dificuldade de compreender o que significa o selvagem.

Não adianta querermos chamar a nós animais e tê-los como imagens senão estamos dispostos a ver-lhes os dentes.